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Por que Groenlândia, cobiçada por Trump, é parte da Dinamarca

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Numa coletiva de imprensa realizada na terça-feira (7/1), Trump reafirmou que a ilha é estratégica para a segurança nacional americana. A Groenlândia está no caminho da rota mais curta entre a América do Norte e a Europa — e já abriga bases aéreas americanas desde a década de 1950. A região também possui vastos depósitos de minerais — como carvão, ferro, chumbo, zinco, molibdênio, diamantes, ouro, platina, nióbio, tantalita e urânio — que são vitais para a fabricação de aparelhos eletrônicos e baterias, entre outros fins.

Em conversa com jornalistas, Trump sugeriu que a ilha é crucial para manter os esforços militares americanos de rastrear navios chineses e russos — que, segundo ele, "estão por todos os lados". Ele também não descartou o uso da força econômica ou militar para atingir esses objetivos, que segundo falas recentes do presidente eleito incluem não apenas a Groenlândia, mas também o Canal do Panamá e o Canadá.

Os comentários foram feitos num momento em que o filho dele, Donald Trump Jr., realiza uma visita à Groenlândia. Antes de chegar à ilha, Trump Jr. disse que faria "uma viagem pessoal" para conversar com as pessoas e não tinha nenhum compromisso agendado com representantes do governo local.

Embora tenha autonomia e um governo próprio, a Groenlândia faz parte do Reino da Dinamarca. Ao ser questionado sobre os comentários de Trump, a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen afirmou que "a Groenlândia pertence aos groenlandeses" e que apenas a população local poderia determinar o próprio futuro.

Ela reforçou que "a Groenlândia não está à venda", embora tenha ponderado que a Dinamarca busque sempre uma cooperação com os Estados Unidos, um aliado estratégico do país na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Já o primeiro-ministro da Groenlândia, Múte Egede, disse reiteradas vezes que a ilha "não está e nem estará à venda" — e vê o atual momento como uma oportunidade de buscar uma independência total da Dinamarca.

Mas como uma ilha no Atlântico Norte, quase no Ártico, virou um território dinamarquês? Conheça a seguir os detalhes da Groenlândia e de sua história.

"Apesar de fazer parte da América do Norte, a Groenlândia está politicamente e culturalmente associada com a Europa, particularmente com dois poderes coloniais, a Noruega e a Dinamarca, desde o século 9", diz o texto.

A BBC News estima que dois terços da receita orçamentária groenlandesa vêm da Dinamarca — o restante do dinheiro é obtido principalmente a partir da pesca.

A região foi visitada pela primeira vez por povos nórdicos no ano 982, quando o famoso explorador Eric, o Vermelho, aportou na região sul da ilha. Ele escolheu o nome Groenlândia, que remetia a uma "terra verde", para torná-la mais atrativa para futuros colonos. Poucos anos depois, em 986, Eric voltou à ilha com mais pessoas para formar as primeiras colônias no local.

Os povoados nórdicos se estabeleceram no território até os séculos 14 e 15, quando sumiram do mapa — a provável explicação para isso foi uma mudança temporária nas condições climáticas do lugar, com uma queda significativa das temperaturas.

Em 1721, uma expedição liderada pelo missionário norueguês com ascendência dinamarquesa Hans Egede iniciou um novo ciclo de colonização na Groenlândia. Um povoado foi estabelecido nas proximidades do que é hoje a capital Nuuk — e a ilha passou a ser parte da Dinamarca.

No século 20, durante a Segunda Guerra Mundial, a Dinamarca foi invadida pela Alemanha. Para evitar um possível ataque das forças nazistas à América do Norte, os Estados Unidos assumiram a defesa da Groenlândia e tiveram controle sobre a ilha entre 1941 e 1945. Com o fim da guerra, o presidente dos EUA, Harry Truman, fez uma primeira proposta de compra da Groenlândia com uma oferta de 100 milhões de dólares, mas a Dinamarca rejeitou a oferta.

Na década de 1950, o país escandinavo (que havia retomado controle total sobre a Groenlândia) permitiu a instalação de bases aéreas americanas, que foram expandidas e aprimoradas durante a Guerra Fria como uma linha de defesa da Otan. Em 1953, a ilha deixou de ser classificada como uma colônia e foi oficialmente reconhecida como parte integral do reino da Dinamarca.

A partir dos anos 1970, surgiram os primeiros movimentos para que a ilha ganhasse mais autonomia. Um referendo de 1979 ratificou a possibilidade de um governo local. Já em 1985, a Groenlândia saiu da Comunidade Econômica Europeia. Em 2008, um novo referendo garantiu ainda mais liberdade política para a região, com maior controle sobre as fontes de energia e um reconhecimento do Kalaallisut como uma língua oficial.

A Dinamarca segue responsável por questões como política internacional, segurança e aspectos da economia (a coroa dinamarquesa é a moeda oficial da Groenlândia), embora o governo local tenha possibilidade de assinar acordos e tratados próprios.